Abandono de tratamento de HIV e Aids aumenta em Ponta Grossa
Motivos são relacionados a pandemia e o preconceito. Abandonar o tratamento pode causar agravamento das fragilidades imunológicas dos pacientes
Infografia: Leonardo Duarte |
Número de pessoas em tratamento de HIV/Aids em Ponta Grossa diminui em 2021. No total 1.333 pessoas fazem o acompanhamento médico com medicação na cidade, redução de 5.830 pacientes a menos se comparado ao ano passado. Essa queda se dá junto ao agravamento da segunda onda da pandemia.
Até 2019, 8.355 indivíduos estavam em tratamento para a comorbidade, esse número reduziu para 7.163 em 2020, foram 14% a menos. Segundo os dados da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, 2018 foi o ano de maior adesão de pessoas com acompanhamento médico, foram 10.428.
O coordenador do Serviço de Assistência Especializada (SAE)/ Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) e IST/Aids, Fernando Sandeski explica o objetivo da medicação. “O objetivo do tratamento para a pessoa que vive com HIV é deixar a carga viral indetectável. A pessoa que vive com HIV e fazendo o uso do medicamento de forma regular e com a carga viral indetectável, não transmite o vírus mesmo que se relacione com outras pessoas de forma sexual”, comenta.
Quando uma pessoa abandona o tratamento, ela fica suscetível a outras doenças. “Quando alguém que abandona o tratamento ou faz o diagnóstico tardiamente, a carga viral começa a se elevar no organismo chegando a milhões de cópias por milímetro de sangue e as células de defesa CD4 vão diminuindo e aí a ficam sucessíveis a infecções oportunistas e uma delas é a tuberculose”, esclarece Fernando.
Infografia: Leonardo Duarte |
Os testes rápidos realizados também tiveram queda durante a pandemia. Em 2020 foram 16.647 teste de HIV executados, redução de 18% em um ano. No período de 2019, a cidade fez 20.185 testes. Em 2017 foram feitos 24.195 exames, ano de maior testagem realizado. Desde então os números apontam queda de 31% a menos até o ano passado.
Um dos pontos que mais dificulta a adesão da população, em realizar os testes rápidos é o preconceito. “Existe uma adesão razoável para a testagem rápida. Em boa parte, isso ocorre devido ao preconceito. Falar de sexualidade é difícil e especialmente quando são abordadas essas questões de saúde, pode ser tarde em relação a prevenção. Por isso o objetivo sempre do programa da saúde é fomentar na maioria dos espaços discussões que tratem a sexualidade como forma natural, porque faz parte do contexto do ser humano”, relata Fernando.
A queda na testagem, impacta na frequência dos diagnósticos por ano. No ano em que mais foram realizados testes, 188 pessoas positivaram para HIV/Aids. Em 2020 foram confirmados 89 casos, uma redução de 18% se comparado a 2019, 108 pessoas com a comorbidade.
Por e-mail, a prefeitura respondeu que o Serviço de Atendimento Especializado (SAE) está operando normalmente desde o início da pandemia sem restrições aos atendimentos. Sobre o atendimento, a prefeitura respondeu o seguinte: “O Ministério da Saúde prorrogou as receitas por noventa dias, sendo assim, o fluxo dos atendimentos diminuiu por conta de um critério adotado por eles. Casos novos e pacientes que desejavam se consultar, todos foram atendidos.”
Em relação a testagem, a prefeitura manifestou o seguinte: “Os testes rápidos são oferecidos em toda a rede de saúde (Unidades Básicas de Saúde - UBS), por este motivo acredita-se que o cidadão ficou mais restrito na sua casa, na sua comunidade, pois os testes são descentralizados”.
Sobre o HIV e Aids
O HIV é um retrovírus que causa a imunodeficiência humana da Aids, ou seja, soropositivo. Quando tratado, a pessoa vive com condições de saúde normal. A Aids é o vírus ativo no corpo e passa a se manifestar com as chamadas “doenças oportunas”.
Os sintomas do HIV são parecidos com a de uma gripe vaivém. Já os sintomas da Aids são a perda de peso, infecções recorrentes, sudorese noturna e febre.
A transmissão ocorre por relações sexuais sem proteção, uso compartilhado de seringas, materiais cortantes, de mãe para filho e transfusão de sangue contaminado. Os meios de prevenção são o uso correto de camisinha e outros preservativos, não compartilhamento do uso de seringas e o uso acompanhado de orientação médica de PrEP (Profilaxia Pré-Exposição).
Segundo o Ministério da Saúde, o PrEP é um conjunto de dois medicamentos em um único comprimido. Este remédio impede o HIV de se espalhar pelo corpo. Vale lembrar que o medicamento não é 100% eficaz e o uso de preservativo deve ser realizado.
O coordenador da SAE/CTA explica sobre os grupos que tem acesso a essa medicação. “A PrEP é uma política pública para alguns públicos específicos. É destinado para homens que fazem sexo com outros homens, pessoas transsexuais, profissionais de sexo e casais soro-diferentes”, menciona. A pessoa que se encaixa nesses critérios, pode procurar o SAE. O órgão realiza o acolhimento e os exames para ministrar o medicamento.
Os testes devem ser realizados com periodicidade e são oferecidos de graça nas UBS, Unidades de Pronto-Atendimento, SAE e hospitais. O tratamento oferecido pelo Sistema Único de Saúde é gratuito. O Serviço de Assistência Especializada está localizado na Rua Joaquim Nabuco, ao lado do antigo Hospital 26 de Outubro. O estabelecimento funciona de segunda a sexta das 7h às 16h.
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